Silvio Persivo
A quarentena prolongada, realizada em quase todos os países do mundo, é um grande erro e que irá custar muito sacrifício de todos. É preciso ver que a crise de saúde do novo coronavírus não é uma questão binária, como erroneamente, está colocada de “fique em casa” ou saía. É um problema muito mais complexo na medida em que a própria Organização Mundial de Saúde-OMS define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”. Quando, como muitas pessoas fazem, criminalizam as pessoas que não ficam em casa, como “se colocassem a minha saúde e a da minha família em risco” assumem, sem a menor percepção ou análise, a visão de que somente as parcelas ricas da população tem direitos, ou seja, as camadas mais pobres, os que precisam diariamente ir buscar seu sustento, devem se subordinar aos que podem ficar em casa e, mais, que cabe ao estado resolver a questão de como sustentar os mais vulneráveis. A questão é que o próprio estado, no caso brasileiro, já fragilizado pelo assalto ao seus cofres e anos de má gestão, também não se encontra numa condição muito saudável. Assim, por mais que faça, será insuficiente para atender às necessidades imediatas. Acrescente-se que, com a economia parada, a arrecadação cai quase 1/3 do normal. Não por acaso estamos enfrentando a pior queda do produto da história. Economia sem produção é uma economia quebrada.
Os resultados ruins já se fazem ver, pois, a economia brasileira contraiu 1,5% no 1º trimestre de 2020 em comparação com o trimestre anterior, ajustado sazonalmente. E isto quando se mede apenas um trimestre que teve um sexto afetado, a última quinzena do mês de março. Isto nos leva a três grandes problemas de pronto, agora, e depois que passar a pandemia. Em primeiro lugar, um forte crescimento do desemprego, um grande número de falências e como resultado um enorme aumento da pobreza. Então, não há como se ter, nem se pode esperar, um crescimento em V. O que também nos obriga a ter uma ação muito mais rápida para podermos ter uma recuperação. Neste sentido a situação atual nos obriga a ter uma melhor gestão dos gastos, nos impõe, inclusive em termos de governo, a melhorar seus padrões de gerência, a fazer mais com menos recursos. Claramente é premente fazer as reformas essenciais para implantar um conjunto de reformas pró-mercado, como a fixação de regras claras para os investimentos em infraestrutura, a aprovação do novo marco regulatório do saneamento básico e do setor de gás natural, uma maior abertura comercial, a reforma tributária e uma agenda de concessões e privatizações. Além disto a crise também coloca em evidência a necessidade de mudanças fundamentais nos processos brasileiros que são por demais burocráticos. É preciso, imediatamente, melhorar o ambiente de negócios, permitir que os brasileiros possam ser, efetivamente, empreendedores. É complementar a isto, inclusive, quebrar o monopólio financeiro ao qual estamos submetidos. Se há algum setor que, em, praticamente, nada mudou durante a crise, foi o setor financeiro. Os empreendedores, em especial os micros e os pequenos, precisam de crédito. E o crédito no Brasil, apesar da redução da Selic e dos esforços do governo, continua a ser uma ficção. Nominalmente existe, mas, os tomadores não têm acesso. Sem uma forte concessão de crédito a economia brasileira irá patinar ainda durante muito tempo.